27 junho, 2004

Diferenças culturais

Desde o meu primeiro ano de faculdade, percebi muitas coisas. Passados praticamente 6 anos, consigo ver uma certa evolução, um amadurecimento. Percebi na própria pele que diferenças culturais existem. Da boca pra fora, sabia que elas estavam lá, mas não sabia que eram tantas. Não sabia que elas me trariam grandes questionamentos e me fariam procurar uma identidade.
Quando criança, estudei em uma escola perto de casa. Era uma escolinha do bairro onde não havia muitos orientais. Até aí tudo bem. Um dia, no entanto, percebi que era diferente de meus coleguinhas do pré. Minha mãe diz até hoje que certo dia voltei, da escola chorando porque uma criança tinha me chamado de japonesa. Lembro da resposta da minha mãe: - Fala pra sua amiguihna que você não é japonesa, mas coreana. Que situação!!! Achei que minha mãe não tivesse entendido o meu dilema. Naquela hora eu não queria ser diferente. Isso me incomodava. Além disso, como explicar que era coreana se muitos nem sabiam onde era a Coréia?
Parece bobo falar isso hoje em dia, pois muitos (espero eu) sabem onde ela fica. A realidade é que até as Olimpíadas de 88 muitos nem sabiam onde este país ficava.
Hoje analisando este episódio consigo explicar a minha personalidade no primário e em parte do ginásio. Era uma garota meio quietinha. Tirava boas notas, tinha meus amiguinhos, mas não me sentia totalmente confortável.
Acho que se naquela época alguém me chamasse de japa, eu provavelmente não argumentaria. Hoje vejo que já não é assim. Com certeza diria que sou coreana. Parece uma coisa pequena, pois pra muita gente oriental é tudo igual. Isso acontece até mesmo porque muitas pessoas não sabem que existem diferenças. Mas são é bem assim. A generalização é muito ruim. Apesar da raiz ser a mesma, as culturas orientais são muito diferentes e gostaria que as pessoas soubessem disso. Sentir tudo isso me fez pensar na minha atitude em relação a outras culturas. Ninguém gosta de ser generalizado, afinal de contas cada nação possui características peculiares. Não é a toa que os canadenses não gostam de ser confundidos com americanos.

Um comentário:

Sabrina Kim disse...

É... Léo. Acho que a minha história é parecida com a sua. Também não gostave de ser tachada como uma oriental quietinha, tímida e acanhada. Acho que é o esteriótipo que fazem da gente. Mas nessas de tentar fugir, acabei me tornando uma pessoa que não era a minha essência. Me achava totalmente brasileira. Engraçado, né? Meu pai me dizia: -Olhe no espelho e você vai ver que não é totalmente brasileira. Óbvio que não era. Os olhos puxados eram um fato. Mesmo assim, eu não os via. Mal sabia eu que estava negando o que eu era e isso acabava me machucando. De certa forma, dá pra entender porque as anorexicas quando se olham no espelho não enxergam sua magreza. Acho que eu não via quem era.
Anos mais tarde, as coisas que meus pais foram me falando durante minha adolescência e minha infância foram surgindo como um videoclip. Frazes que eu achava que entendia foram realmente fazendo sentido.
Acho que quando as pessoas entram na faculdade, elas procuram uma identidade. Além da questão da profissão, existe a questão da nacionalidade. Temos vários amigos em comum que foram fazer intercâmbio pro país da descendência de seus pais. E não são apenas orientais não. Acho importante procurarmos nossas raízes, porque aí descobrimos quem realmente somos e porque somos assim.